Notícias da Igreja CatólicaOutra meditação orante do texto de Romanos 12, 1-2Data: 25/08/2020 Contexto Depois de apresentar a sua catequese sobre o de salvação que Deus tem para todos os homens (cf. Rm 1,18-11,36), Paulo começa a apontar considerações de caráter mais prático, destinadas a mostrar como deve viver aquele que é chamado à salvação. Essas indicações práticas aparecem na segunda parte da Carta aos Romanos (cf. Rm 12,1-15,13). Aí Paulo apresenta um longo discurso exortativo, no qual convida os romanos (e os crentes em geral) a comportar-se de acordo com as exigências da sua condição de batizados. Aderir a Cristo e acolher a salvação que Ele veio oferecer não significa ficar no simples campo das verdades teóricas e abstratas (por muito bonitas e profundas que elas possam ser), mas exige um comportamento coerente com os valores de Jesus e com a vida nova que Ele oferece. A adesão a Jesus implica assumir atitudes, nos vários momentos e situações da vida diária, que sejam a expressão existencial desse dinamismo de vida nova que resulta do baptismo. O texto de hoje é a introdução à segunda parte da Carta e a esta reflexão prática sobre as exigências do caminho cristão. Apresenta-se como uma espécie de ponte entre a parte teórica (primeira parte da carta) e a parte prática (segunda parte da carta). Mensagem A bondade e o amor de Deus (de que Paulo tratou abundantemente nos capítulos anteriores) convida a uma resposta do homem. Como é que deve ser essa resposta? Paulo convida os crentes a oferecerem-se (literalmente “os vossos corpos”. “Corpo” não indica, aqui, essa entidade distinta da alma, mas a pessoa na sua totalidade, enquanto ser em relação. É o homem enquanto ser que se relaciona com Deus, com os outros homens e com o mundo). Os cristãos são aqueles que se entregam completamente nas mãos de Deus e que, em todos os instantes da sua existência, vivem para Deus. Essa oferta será um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. É esse “culto espiritual” (pode se traduzir também como “culto lógico” ou “culto razoável”) que Deus espera do homem. O adjetivo utilizado por Paulo para se referir ao culto é utilizado em contextos análogos, tanto por autores judeus como por autores gregos, para marcar a diferença entre um culto formal e exterior, que não compromete o homem e o culto verdadeiro, que brota do coração e que compromete o homem inteiro (cf. Am 5,21-25; Os 6,6; Jo 4,23-24). Os crentes devem, portanto, oferecer inteiramente as suas vidas a Deus; e é esse o culto que Deus espera desses sobre quem derrama a sua misericórdia e a quem oferece a salvação. Na perspectiva de Paulo, o que é que significa o homem oferecer inteiramente a sua vida a Deus? Significa, em primeiro lugar, não se conformar com “este mundo” – isto é, manter uma distância crítica em relação aos esquemas do mundo e aos valores sobre os quais este mundo de egoísmo e de pecado se constrói. Significa, em segundo lugar, uma mudança de coração, de mentalidade e de inteligência, que possibilite ao homem discernir qual é a vontade de Deus, a fim de poder percorrer, com fidelidade, os seus caminhos. O “culto espiritual” de que Paulo fala é, portanto, a entrega a Deus da totalidade da vida do homem. Na sua relação com Deus, com os outros homens e com o mundo, o cristão deve renunciar aos caminhos do egoísmo, do orgulho, da autossuficiência, da injustiça e do pecado; e deve procurar conhecer os projetos de Deus, acolhê-los no coração e viver em coerência total com as suas propostas. Para os nossos dias Na reflexão, considerar os seguintes elementos: • Como é que o crente deve responder aos dons de Deus? Com ritos solenes e formais, com orações ou gestos tradicionais repetidos de forma mecânica, com a oferta de uma “esmola” para os cofres da Igreja, com uma peregrinação ao santuário de Aparecida? Paulo responde: o culto que Deus quer é a nossa vida, vivida no amor, no serviço, na doação, na entrega a Deus e aos irmãos. Respondemos ao amor de Deus entregando-nos em suas mãos, tentando perceber as suas propostas, vivendo na fidelidade aos seus projetos. Como é o culto que eu procuro prestar a Deus: é um conjuntos de gestos mecânicos, rituais e externos, ou é uma vida de entrega e de amor a Deus e aos homens meus irmãos? • “Não vos conformeis com este mundo” – pede Paulo. O cristão é alguém que não pactua com um mundo que se constrói à margem ou contra os valores de Deus. O cristão não pode pactuar com a violência como meio para resolver os problemas, nem com a lógica materialista do sucesso a qualquer preço, nem com as leis do neo-liberalismo que deixam atrás uma multidão de vencidos e de sofredores, nem com as exigências de uma globalização que favorece alguns privilegiados, mas aumenta os bolsões de pobreza e de exclusão, nem com a forma de organização de uma sociedade que condena à solidão os idosos e os doentes… Eu sou um comodista, egoisticamente instalado no meu cantinho aproveitando minha pequena fatia de felicidade, ou sou alguém que não se conforma e que luta para que os projetos de Deus se concretizem? • “Transformai-vos pela renovação espiritual da vossa mente” – diz Paulo. Estou instalado nos meus preconceitos, nas minhas certezas e seguranças, nos meus princípios imutáveis, ou estou sempre numa permanente escuta de Deus, dos seus caminhos, dos seus projetos e propostas? Homepage |